quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Homens vagueando



O ócio devia ser a experiência de saber realmente o que fazer do tempo. Um saber feito sabor de cada coisa encontrada, vivida.
 
Estes homens que vi esta manhã, dois com cerca de cinquenta anos, alguns mais os esperando no café ao lado, são o contrário disso. Pelas 10h na papelaria de um centro comercial escuro e sombrio, compravam raspadinhas em série. Por cada euro ganho a mais do que gasto, bebiam uma cerveja. Nisto gastam as suas manhãs sem emprego e esvaziam a sua vida de qualquer sentido. Riam-se muito e estamos habituados a ver no riso um sinal de felicidade mas o riso deles era escuro e pastoso, um sinal de decadência de vidas que não consigo sequer pensar como eram antes.
 
Nas ruas desta minha cidade há muitos homens assim vagueando, saíndo de casa para palmilhar as avenidas, como último recurso para esgotar uma energia que se ficar presa se tornará uma bomba. Não choram como as mulheres, não ficam em casa a tratar da roupa, não imaginam ementas de um euro. Os estudos dizem-no: o desemprego masculino é duas vezes mais dramático do que o feminino. É verdade que isso pode ser sinónimo de uma sociedade onde os papéis ligados ao género são ainda o que são. Sabermos isso não resolve a vida destes homens presos à raspadinha e à cerveja. Este país que nos entristece é o destes homens demasiado novos para serem já gastos e velhos.
 
~CC~


2 comentários:

  1. Sucede o mesmo em todas as cidades do país, creio. E é muito triste.

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  2. Sim Carlos, temos que falar nestas coisas porque por mais tristes que sejam são a realidade que temos que enfrentar.
    ~CC~

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