domingo, 1 de setembro de 2013

Faça você mesmo


A única coisa que nos ensinaram nas últimas décadas foi a consumir, a precisar de ter dinheiro, cada vez mais dinheiro para as necessidades cada vez menos básicas. Embora eu seja uma resistente ao conceito de necessidades básicas. Há quem prefira comprar um livro ou ir a um concerto, nem que seja a troco de umas latinhas de atum.

A minha mãe costurava a roupa toda para os filhos e para ela própria, eu mal sei pegar numa agulha. No outro dia entrei numa loja de tecidos e fiquei maravilhada a olhar os padrões, arrependida de nunca me ter sentado nessa máquina de costura que deu a volta ao mundo atrás da dona. Nessa matéria não vou a tempo de me redimir mas noutras sim.

Não sei se foi por isso. Não sei se é pelo facto do dinheiro já mal chegar para pagar as contas do mês. Ou ainda por não gostar de ter gente estranha em casa, sempre resisti a ter empregada doméstica, gosto de cuidar das minhas coisas por mais que me custe. Parece que nos países nórdicos nem conhecem o conceito de empregada doméstica, todos cuidam de tudo, a família reparte tarefas. 

Escolhemos as tintas, os rolos, o escadote, cada coisa com cuidado, analisando relação preço qualidade. Pintámos metade da casa a linho e uma parede havana, guardei a lata de ardósia para o meu quarto. A vida e o amor são também as paredes pintadas por nós. Agora olho-as e é como se tivessem mais história, guardam estes dias de esforço, resistindo ao mar. Não está perfeito, é verdade. Mas tem o valor das coisas com história, são melhores, mais interessantes.

As paredes combinam agora com os três morangos apanhados hoje do canteiro.

E à noite havia o teatro. Deixava-se a tinta a secar.

~CC~




2 comentários:

  1. Encontro neste texto alguns "ecos" de mim: também nunca tive empregada doméstica, porque me faz impressão ter alguém estranho em casa; a minha mãe costumava fazer alguma roupa para nós e hoje ainda se aventura nuns arranjos ou em trabalhos que não exijam muito e eu, embora tenha uma máquina, até hoje limitei-me a fazer um pequeno saco; já pintei, a meias com o meu irmão, uma das minhas paredes e tenho o restauro de um móvel velho. Como sabe bem ver os trabalhos concluídos, ainda que lhes falte a perfeição de um profissional.
    Bom trabalho e óptima semana! Um abraço.

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