sábado, 8 de março de 2014

Novas liturgias



Já não há manifestações para gritar. Já não há slogans de manifesto, de luta. Que se durma sobre as violações, a violência doméstica e os ordenados mais baixos do que os dos homens. Este é o século das mulheres no hemisfério Norte, não falemos do Sul por favor. 

Os homens compram umas florinhas às suas mulheres. Fazem-se espectáculos ordeiros para as quais as mulheres levam as roupas mais finas e pintura retocada. Para evidenciar que todas as classes se juntam nesta nova liturgia, as juntas de freguesia fretaram camionetas e convidaram algumas mulheres do povo. Passou por mim a empregada doméstica da minha mãe, ia vestida a rigor e com o cabelo arranjado, atrás levava a filha, uma menina de três anos. Sorria maravilhada porque já tinha bilhetes e tinham sido baratos. Pensei porque é que o marido não ia com ela, pensamento tonto, claro. Lá dentro, no auditório cheio que nem um ovo, a mulher sairá homenageada, não sei bem que mulher. A minha mãe queria ir e eu levei-a mas esbarrámos na bilheteira esgotada, o que ainda me surpreendeu de modo estúpido foi a escassez dos homens. Mais logo algumas irão ocupar umas mesas nos restaurantes e beber à maneira, quem sabe vão a um bar de strip. Estamos a anos luz da igualdade de direitos entre homens e mulheres, basta ver estes anúncios, bem recentes, deste país à beira mal plantado.



Por favor, não me ofereça uma rosa.

~CC~

1 comentário:

  1. A vivacidade das redes sociais deu para eu me aperceber que a maioria das mulheres acha que este é um dia do berloque mulher com direito a prendinha e muitos mimos. Não perceberam nada do porquê da existência do dia, e a culpa é nossa. Não explicámos às mulheres que não sabiam. O mercado aproveitou e os homens seus companheiros nunca explicarão (no caso de saberem).

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