segunda-feira, 28 de julho de 2014

Coisas pequenas de gente grande



Acabei de cozinhar uns cogumelos maravilhosos que trouxe do fundo de uma gruta, é aí que um jovem ensaia produzir várias espécies e nos faz emergir no mundo da micologia, explicando como é que de vários substratos (que também experimenta) nascem cogumelos de tantas cores e feitios. Antes tínhamos ido à fábrica das mantas, ao que sobra de uma indústria que já foi poderosa, o matraquear dos teares mecânicos só precisam agora de duas ou três pessoas, continuam a ser pequenas fábricas, ainda assim a recuperar desenhos antigos, a ensaiar cores novas. Uma manta custa muito barato, três vezes mais nas lojas. Ouvimos as histórias que sabemos mas esquecemos tantas vezes: as grandes superfícies que querem vir buscar o produto a custo quase zero, a dificuldade em suportar. Falhámos a senhora que faz os sabonetes artesanais, lá iremos depois. Parece que estou a falar de férias, de visitas de férias, mas não estou. 

Andamos a ver como mostrar às crianças a sua própria terra, ensiná-los a ver o que não está à vista, transformar-lhes o olhar, se possível criar a partir do que se vê, ouve, cheira. Não somos profissionais como os bailarinos que estão em Rabo de Peixe e colocaram as crianças a fazer um bailado intitulado cardume. A nós move-nos o coração de amadores, alguma generosidade, o folgo que nos resta antes da velhice chegar. Passaremos assim uma parte das férias a trabalhar sem com isso ganhar monetariamente nada. Mas eu só quero ganhar  o resto, a semente que fica nas crianças quanto participam nestas coisas, se em mim frutificou para sempre a semente lançada nas oficinas de Drama era eu adolescente, quem sabe em alguns deles também. Podemos sempre perder, perceber que não vale a pena, mas por ora move-nos aquela Igreja velha de sala ampla onde agora aos fins da tarde fazem ginástica os mais idosos. Já não há santos no altar, teremos nós que os inventar, entre os anjos e os nossos corpos, talvez nasça alguma coisa.

~CC~

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