terça-feira, 1 de julho de 2014

Essa coisa do amor



Às vezes quero ficar sem o meu amor, às vezes o meu amor quer ficar sem mim. Eu e o meu amor já ficámos um sem o outro. Pensámos que era bom, pensamos sempre que será bom, mas depois não é nada. O vazio um do outro é tão grande que não resistimos a procurar-nos. Não é pela solidão, é pelo vazio do outro.

Damos muito trabalho um ao outro. Eu só quero andar na rua, viajar, ir à praia. Crio redes e laços por aí e estou sempre a ir aqui e acolá fazer formações, comunicações, workhops e coisas dessas. O meu amor às vezes vai ver-me, outras tira fotos e de outras fica em casa. A minha sede de viver cansa o meu amor. O meu amor gosta de casa, de ler, de tocar viola, de passar muito tempo no computador, de plantar umas coisas no seu quintal pequenino, o meu amor inventa viveiros de pimentas e pimentinhas. O meu amor é desses que tem muitos amigos no FB e fala com eles e eles chegam de todo o lado, até da sua meninice. Eu não tenho amigos nenhuns virtuais, nem FB nem estou nada interessada no meu passado, estou sempre a voltar-me para o futuro. Eu dou muito trabalho ao meu amor porque ando sempre de um lado para o outro e ele fica cansado de vir atrás de mim e às vezes não vem e só quer ficar quieto. A minha cabeça está cheia de todos os lugares onde não fui e se criasse asas ninguém me apanhava, riscava o céu todo com o meu voo. O meu amor não tem essa vontade de viajar nem de ver lugares e pede-me que fique ao lado dele ao Domingo a ver um filme ou a dormitar e eu tento ser feliz nessa felicidade dele. O meu amor zanga-se às vezes muito e eu só me zango raramente mas a zanga dele passa muito depressa e a minha é funda, grande e demora a passar.

E entre as nossas diferenças tão grandes que obrigam o outro a sair de si mesmo, comemos comida picante, vamos ao teatro, passeamos na cidade à noite, vamos comer petiscos, contamos um ao outro as dificuldades que a vida nos põe pela frente e as coisas boas que descobrimos. O meu amor às vezes é calado e eu sou faladora, eu às vezes sou calada e o meu amor é falador. E são mais as vezes que somos as duas coisas, ouvindo o outro, falando ao outro.

Eu acho que o meu amor às vezes quer ficar sem mim e pensa que eu quero ficar sem ele. Nós já ficámos um sem o outro e eu só pensava nele e ele também pensava em mim. O vazio um do outro criou uma saudade imensa do nosso abraço coladinho. Eu às vezes penso que não gosto dele e que ele não gosta de mim. E depois ele vem de tão longe só para passar uma noite comigo no meio do Alentejo e eu  percebo o seu esforço e vejo que ele é mesmo o meu amor.

~CC~




1 comentário:

  1. Por vezes - como agora, ao ler esta "confissão" tão bonita e sentida -, ainda acredito que o amor é possível. :)

    Beijinhos

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