quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Nascer em Setembro



O homem lava as janelas com tanta força, depois senta-se a fumar um cigarro na varanda. É bom ver um homem em trabalhos domésticos de afinco e esforço, seria bom que tivesse mulher em casa e mesmo assim fosse ele fazer brilhar os vidros. Preciso de esperança na humanidade para recomeçar Setembro. E nos homens.

A mulher que leva o homem paraplégico ao café e dá-lhe a beber o café e a água com enorme carinho, nenhuma vergonha, um sorriso embevecido ao olhar para ele. Preciso de acreditar no amor para que seja um bom Setembro.

O homem que preenche os impressos para a emissão do cartão de estudante de ensino superior da minha filha relaciona Setúbal com o choco frito para nos dizer que vimos de boa terra, eu acrescento os tons poéticos, tem serra e mar e rapidamente me lembro de Oviedo para dizer: e bom peixe! Preciso de acreditar que ela e eu, estejamos onde estivermos, vamos continuar a ter este laço forte.

Os colegas riem na primeira reunião de equipa, ninguém se chateia, trazemos sol ainda na pele apesar da chuva que hoje caiu. Este foi um dos Verões mais estranhos da minha vida, um preto e branco difícil de perceber até para mim. Um colega perguntou-me: as férias são mudança, o que mudaste tu? Estranhei pergunta tão profunda em pleno bar, mas respondi: em mim mudou qualquer coisa mas ainda não sei o quê. E é verdade. Preciso de acreditar em mim como pessoa essencialmente feliz para que seja Setembro. 

~CC~

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