terça-feira, 18 de agosto de 2015

Na aldeia global (II)



Era naquela aldeia, podia ser em qualquer outro lugar do mundo. Não havia sombra da identidade local, nada de uma comida regional, um produto da colheita, um licor produzido ali mesmo, uma velhota para contar histórias de animais tresmalhados. Podia afinal ser em Lisboa, numa vila, numa outra aldeia qualquer. Serviam febras e frango de churrasco. As bancas das cervejas eram idênticas as que estão noutros festivais e a bebida da praxe continuava a ser a imperial. Os palcos eram enormes, o som verdadeiramente avassalador para um lugar como aquele. Os habitantes? Um mistério, talvez estivessem por ali nos bares ou nos lugares que vendiam comida, talvez alguns ajudassem a montar os palcos. Mas as aldeias portuguesas têm velhos e esses foram invisíveis, talvez fujam nestes dias do festival. O marketing como em todos os lugares, funciona. Aqui o logo é o de uma lagartixa, bonito, mas se as há, devem ter fugido a sete pés. 

Venha viver a aldeia é um dos slogans. Mas onde está a aldeia? Confesso que a procurei sem a encontrar. Trata-se de um festival tão comercial como outro qualquer, nomes sonantes em palcos gigantes. E praticamente só há música, um palco a funcionar de cada vez, o que ocasiona uma romaria difícil de gerir. Afinal este é para ser um festival como outro qualquer, a aldeia é apenas um cenário. A globalização é uma maré muito poderosa e leva tudo adiante. Salva-se a língua portuguesa, não obstante alguns dos grupos cantarem em Inglês. 

Há coisas que precisamos de ver, eu precisava de ver este festival. Se a ideia é ser como os outros, então terão que os imitar melhor, colocar voluntários nos parques de estacionamento para arrumar os carros porque se tornam caóticos, colocar palcos a funcionar em paralelo, sinalizá-los melhor, cuidar do som. Não denominem como palco Giacometti um coreto onde passa musica de vanguarda, experimentalismo sim, mas ele fez recolhas de música tradicional.

O que se passou de melhor foi nos palcos pequenos, dentro da igreja, à frente da igreja, apontamentos de gente quase desconhecida que foi ali para fazer a festa e não para fazer mais um frete num festival, para alguns é preciso explorar o Verão até quase ao tutano.

Hei-de voltar a esta aldeia, preciso de a ver sem festival.


Edu Trio com Dino de Santiago (o melhor momento)


Quem mora aqui?

~CC~

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