sábado, 3 de outubro de 2015

A grande casa



Gosto deste fim de semana. A minha filha está em casa, ainda que tenha vindo a precisar de repouso e caldos de galinha. Eu também tenho um fim de semana sem estrada, o que é raro. Se fosse artista de música pimba, não sei se andaria tanto de um lado para o outro. Por acaso tinha um Congresso e comunicação no Minho de Quinta a Sábado mas desisti de ir, coisa inédita em mim. Fico a imaginar que chamarão o meu nome e eu não estarei e é uma sensação estranha isso acontecer, como se tivesse morrido ou assim. Mas era ainda mais dolorosos ir.

O sábado amanheceu tranquilo e daqui a pouco iremos ao nosso a um dos nossos restaurantes preferidos, confesso que até me custa chamar-lhe assim pois é mais como um lugar familiar onde vamos comer. Sentir que a minha cidade é uma espécie de grande casa onde me movo é de um grande reconforto, como se houvesse um colo depois de tanto tempo de me sentir nómada. Consigo ir a muitos sítios sozinha porque sei que haverá alguém por lá a quem cumprimentar, alguém que me ajudará a não me sentir só. Ontem, nos claustros do convento de Jesus, um concerto de jazz para assinalar o dia da música, foi assim. Reconheci num dos músicos um ex.aluno meu, até isso me emocionou, foi como se já fizesse parte de alguma coisa, uma comunidade, algo que tenho andado desde sempre à procura.

Acho que agora que equiparam os retornados aos refugiados (com as devidas cautelas, por favor) compreenderão melhor o que foi que perdermos, um chão que imaginávamos era o nosso, eu não retornei coisa nenhuma porque nasci lá, eu simplesmente vim morar para outro país, com a sorte da língua ser a mesma ou muito semelhante (às vezes, na verdade, não percebia nada do que diziam). Morei nos mais diversos sítios, fui despejada de uma casa porque não havia dinheiro para pagar a renda e a polícia veio, morei em casas ocupadas e a polícia demorou mais a vir, veio sob a forma de homem de fraque para "regularizar a situação". Fiquei sem terra até hoje e tenho andado à procura, até fui ao lugar onde nasci a pensar que era lá a minha terra e devia voltar, mas afinal já não era lá. É por isso que preciso até hoje de um lugar e este é o que mais se aproxima disso.

O mundo devia ser uma grande casa e o nosso lugar só um colo dentro dessa grande casa. 

~CC~





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