segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

As passas de ano novo



Foi há dois ou três anos talvez que deixei de vez de pedir desejos para mim com as passas de ano novo. Ainda as como pensando em pessoas específicas, outras vezes junto-as em grupo, é como se fosse uma revisão de afectos e se alguém me ocupa muito o coração pode levar mesmo duas ou três passas. Pouco a pouco também deixei de tomar resoluções, não obstante ainda achar piada a listas, adoro ler o que os outros consideram os melhores livros, filmes, destinos turísticos e seja o que for que me leve a ultrapassar os meus próprios limites no conhecimento das coisas.

Acredito porém que muitas das coisas que nos mudam ou que mudam na nossa vida são também um acaso, não um acaso total, muito menos uma obra do destino. É mais como um virar do rosto para apanhar num lado da face um vento que nos traz luz, enfiar o pé na areia e ver a concha da cor que mais gostamos, cruzar um olhar com outro e receber um fulgor. Há qualquer coisa que fazemos por nós próprios mas nem sempre isso é obra de um raciocínio elaborado, de um plano lógico, de uma decisão tomada na passagem de ano. Pelo contrário, neguei decisões de ano novo e foi nessa negação que encontrei felicidade. Não significa isto que adoptei na vida uma filosofia budista, acreditando que nada desejar é o segredo da felicidade. Pelo contrário, desejo muito, de coisas pequeninas a coisas maiores, o meu tempo vazio é sempre tão cheio que às vezes até me canso de mim. Significa antes que deixei de acreditar em caminhos feitos a direito, ando pelas veredas, perco-me em cruzamentos, atrevo atalhos. Tornei-me cada vez mais pequena, aceitei-me como a infinita partícula que, contudo, será menos minúscula se fizer sentido na vida de alguém.

~CC~



1 comentário:

  1. O tempo consegue sempre nos alterar, vemos e sentimos as coisas de uma outra forma. Na altura de mudança de ano, confesso, que penso sempre nos que amo e no bem que lhes quero. O resto é tudo demasiado volátil :)

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