terça-feira, 11 de outubro de 2016

Quê flô..


Sérgio Trefáut filmou os Lisboetas em 2004 mas nunca o tinha visto. Vi-o numa sessão cultural feita na minha escola. 

Estes lisboetas são os novos lisboetas, um conjunto impressionante de imigrantes, quase todos homens. Duas das personagens ficaram na minha memória, melhor, a doer no meu coração. Uma delas é mulher e é portuguesa e falarei dela depois. 

O outro é um rapaz que vende flores, rosas anémicas embrulhadas em plástico que ele tenta impingir a todos os casais e depois, com o desespero de nada vender, a qualquer pessoa, sozinha, acompanhada, de qualquer idade, qualquer nacionalidade. Quando a noite cai, junto ao rio, confessa a um pescador que não apanhou qualquer peixe, que ele também não vendeu qualquer flor. Lembrei-me de todas as vezes que eu também não comprei uma flor daquelas, o que me doeu mais no filme, nem é não comprarem mas sim o desprezo, a maior parte recusa-se a olhar para ele, a maior parte nem sequer diz: não obrigada(o). Não é um sentimento assistencialista que me move, afinal ele nada pede, ele vende um produto que ninguém quer. De repente vi o mundo pelos olhos tristes daquele jovem, os bolsos vazios depois de um dia de trabalho. Hei-de comprar uma daquelas rosas, por pouco que goste de rosas. Não salvarei todos os moços que apregoam "Quê flõ", talvez não faça mais do que tranquilizar um bocadinho a minha consciência, o meu mal estar. Mas é assim, somos seres imperfeitos, contraditórios, às vezes basta-nos fazer alguém um bocadinho mais feliz.

~CC~

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