sexta-feira, 9 de junho de 2017

No reino da cidadania



Hesitei em tirar a senha prioritária e acabei por não o fazer, mesmo sabendo que iria esperar mais. E fiz bem, atendendo a que a loja do cidadão é um observatório humano, não devemos ter pressa.

Se pudesse tinha gravado em vídeo aquele casal cigano, mesmo considerando que como grávida, ela tinha tirado a senha prioritária depois de mim e sido atendida à minha frente, mea culpa. Ele deu-lhe a cadeira para ela se sentar, fez-lhe festas e abraçou-a enquanto era atendida e deixou-a falar sem interromper, só falava quando ela se virava para ele e o questionava. Demoraram muito tempo e nunca perderam a calma, a simpatia, a harmonia. Cidadãos de primeira!

Já foi mais difícil encarar a situação do homem negro que não falava português e que pura e simplesmente não percebia o que a funcionária lhe estava a explicar, ela dizia que as senhas para o pedido específico que ele tinha que fazer já tinham esgotado, que teria que voltar outro dia, ele continuava a mostrar-lhe os documentos, tentando explicar-lhe com gestos o que queria, de alguma forma com desespero, embora calmo. Demorou muito tempo esta cena confrangedora.  

Quando chegou a minha vez, a funcionária perguntou-me se já tinha preenchido o impresso, ora eu tinha estado ali uma hora mas desconhecia que era necessário ter previamente um impresso, nenhuma informação sobre isso estava disponível. Temi pelo "volte amanhã", mas ela acedeu a esperar. O que veio a seguir teve sorte pior, enganara-se na senha e tinha que voltar a tirar outra senha, tendo sido encorajado da seguinte forma " Isso é no IMT, tem que tirar outra senha, e prepare-se, são cerca de quatro horas de espera". 

Não sei bem de que cidadão são estas lojas nem porque se chamam lojas, sempre quis acreditar que eram um avanço face aos serviços tradicionais, mas hoje tenho algumas dúvidas.

~CC~




2 comentários:

  1. Os serviços são os tradicionais só que todos no mesmo espaço físico. Tudo é em mais. O que corre bem é melhor e se calhar o que corre mal é pior.

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  2. Tens razão Luísa...é quase só uma mudança de espaço, isso não deixa de ser importante, mas é pouco.
    ~CC~

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