segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Cinco mil e um



Este concelho tem só cinco mil habitantes, disse ele, que vive ali perto desde sempre. Estamos no Alentejo central, interior. Há vinte anos asseguro-vos, vi estas ruas cheias. Por aqui há um incêndio sem fogo há muito tempo, as altas temperaturas lambem a terra e deixam crescer pouco verde, apenas os sobreiros resistem a (quase) tudo, as pessoas foram desaparecendo pouco a pouco. Como é que tanta beleza pode ser deixada assim ao abandono? Andamos pelas ruas da vila e metade das casas estão fechadas, muitas delas à venda, outras nem isso pois são vítimas de batalhas intermináveis entre herdeiros. É como se a cada esquina estivesse uma coisa única prestes a ser abandonada: uma prática artesanal milenar, um bolo ou um salgado que só ali se fazem e há muitos séculos, uma roupa que se adaptava ao clima, um modo de falar. O teatro está em reconstrução e fixo-me nele, candidataria-me a ser a cinco mil e um, caso pudesse tomar conta dele.

~CC~

Sem comentários:

Enviar um comentário

Passagens